Site Overlay

A BANDA

VZYADOQ MOE
VZYADOQ MOE – Foto de Vânia Toledo – Divulgação

VZYADOQ MOE é uma banda brasileira de rock alternativo. Surgido em 1986 na cidade de Sorocaba, o grupo causou furor e tornou-se objeto de culto rapidamente graças à sua mistura original de influências. O Vzyadoq criou uma sonoridade inconfundível a partir da mistura do pós-punk inglês (Bauhaus, Joy Division, The Cure, Killing Joke) com o rock dos alemães do Einstürzende Neubaten e Kraftwerk, samba de raiz (Nelson Cavaquinho, Cartola, Clara Nunes, …), literatura simbolista, histórias em quadrinhos e referências visuais ao cinema expressionista alemão. O Ápice, único álbum em vinil da banda, foi lançado em 1988 pelo selo Wop Bop, celeiro do rock independente de São Paulo nos anos 80, e permanece sendo um disco singular e influente.

PRIMÓRDIOS

O Vzyadoq inicial foi formado por três jovens no final da adolescência: Marcelo “Acabado” Raymond (guitarra), Marcos “Peroba” Stefani (bateria) e Marcelo “Fausto” Marthe (vocal e letras). Quase todos eram autodidatas completos na música, e foram fortemente influenciados a formar a banda seguindo o lema punk do “do it yourself” após assistir a uma apresentação histórica do quarteto feminino As Mercenárias em Sorocaba. Algumas semanas depois dos primeiros ensaios, Jaksan Moreira (guitarra) se juntou ao time. A formação clássica se completaria logo em seguida, com a chegada de Degas Steffen (baixo). O eco na garagem da casa do pai de Peroba, onde aconteceram os primeiros ensaios, acabou ajudando a moldar o som potente da banda (seu efeito é sentido, por exemplo, na sufocante atmosfera de Expansão e no etéreo heavy metal Junto ao Céu). O nome foi criado no apertado quarto de dormir de Marthe, por meio de um sorteio dadaísta levemente adulterado para que o resultado repleto de consoantes ficasse menos impronunciável.

A opção inventiva por um kit de percussão composto de latas velhas e caixas de papelão – uma versão com jeitinho brasileiro do rock industrial do Neubaten – foi um elemento que chamou muita atenção nos primeiros tempos. Mas, aos poucos, ficou claro que a batida incomum de Peroba, que concebia de maneira instintiva fusões inovadoras de ritmos como o hardcore e a macumba, dispensava esses penduricalhos. Com o tempo, as latas foram trocadas por instrumentos tradicionais de bateria (mais tarde, já nos anos 2000, a percussão eletrônica seria incorporada). A linha do repertório que daria origem ao LP O Ápice nasceu do amálgama produzido pela mistura de suas batidas com o baixo muscular e cheio de efeitos de Degas, mais as guitarras da dupla Acabado e Jaksan, que mesclavam distorção e riffs melódicos, além do vocal “anti-vocal” de Marthe. Hits alternativos como O Incerto, Redenção, Fogo e Gelo e Não Há Morte exprimem bem essa combinação.

As letras de Marthe também se diferenciavam de tudo que se ouvia no rock alternativo brasileiro dos anos 80. Obcecado pelo expressionismo e pelos filmes de terror e suspense em geral, ele compôs a princípio letras nas quais imagens impactantes e toda sorte de visão tormentosa, dark, ganhavam uma abordagem enigmática, mas igualmente carregada de humor, ironia e certo frescor juvenil. Aos poucos, ele foi expandindo seus voos literários muito peculiares para o campo da escrita de fluxo de consciência, o que resultava em letras aparentemente sem sentido, que abusavam de um vocabulário obscuro. Não se deve menosprezar, por fim, sua fascinação – ainda que a mesma fosse apenas estética e não religiosa de fato – pelo espiritismo, esoterismo e candomblé.

O PERÍODO PÓS-O ÁPICE

Logo após a gravação de O Ápice, a banda passou por uma reformulação. Jaksan deixou seu posto para cursar a faculdade e a segunda guitarra foi assumida por Fernando “Fernandão” Bálsamo. Da mesma geração que Degas (que era dez anos mais velho que a média dos demais integrantes), Fernandão tinha uma formação mais marcada pelo rock dos anos 60 e 70, em especial por artistas como os Rolling Stones. Embora esse currículo não parecesse à primeira vista se ajustar à proposta do Vzyadoq, acabou se mesclando surpreendentemente bem ao universo da banda. Era o raiar dos anos 90, com a explosão do grunge e uma atmosfera de rock pesado no ar. E a nova formação acrescentou uma densidade técnica à banda, sem corromper sua sonoridade original. Nessa fase rica e mais profissional, o Vzyadoq fez shows clássicos, como na casa noturna paulistana Aeroanta. Produziu também muitas novas músicas. Gravou, em São Paulo, o repertório hoje reunido no disco/EP Hard Macumba, que inclui músicas como Quando da Sabedoria e Viva Iansã! Também fez participações em coletâneas independentes como Enquanto Isso… e Sanguinho Novo – nessa homenagem a Arnaldo Baptista, dos Mutantes, fizeram um cover ruidoso de Bomba H sobre São Paulo.

A FASE QUARTETO

Em meados dos anos 90, após a saída de Fernandão, o Vzyadoq Moe assumiu a formação de quarteto e seu som tornou-se mais seco, instantâneo e agressivo. A banda passou a investir mais na busca de uma produção em estúdio capaz de traduzir o impacto de suas apresentações ao vivo – coisa que não ocorreu em O Ápice, no qual músicas potentes como Não Há Morte ganharam versões menos cruas do que a banda gostaria.

Foi nessa fase que o Vzyadoq fez seu primeiro clipe. Gravado ao longo de uma tarde cinzenta num prédio antigo no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, o clipe de Rompantes de Fúria representou o cruzamento do expressionismo dos primórdios com o espírito do rock e do hardcore. As cenas da banda tocando são entremeadas por imagens reais de pacientes de um hospício sendo submetidos a eletrochoques ou passando por crises de loucura.

DISPERSÃO E RETORNO

Pouco depois da gravação do clipe e de uma nova canção explosiva, Escalada Plastex, o Vzyadoq Moe se dissolveu, mas seus remanescentes continuaram a se devotar a projetos paralelos.

Acabado, Marthe e Peroba investiram em projeto eletrônico, o Pharmasex. A experiência durou pouco, mas permitiu que, depois de vários anos, o antigo guitarrista Jaksan Moreira se juntasse novamente ao grupo. Da eletrônica, eles saltaram novamente para o rock com o Kajera, quarteto que mesclava levada punk moderna e percussão de macumba. Enquanto isso, Degas se devotava igualmente a um projeto paralelo o The Low Key Hackers, que gravou um CD pela Manifesto Records e emplacou músicas nas paradas de rádios rock. Por certo período, Peroba também assumiu a bateria da banda paulistana 3 Hombres, formada por ex-integrantes do Fellini. Mais adiante, entrando nos anos 2000, os integrantes do Kajera formaram outro projeto totalmente eletrônico, o VZtroniq.

Finalmente, em 2010, o Vzyadoq Moe original voltou à ativa como quinteto. Com a formação clássica se reuniu para relembrar seu repertório de todos os períodos. Isso está registrado em uma única apresentação na casa noturna Asteroide, em Sorocaba.